Ponerologia, de Andrew Lobaczewski (Parte I)

Arthur S. E.
13 min readDec 18, 2019

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“O mal é similar a uma doença em sua natureza, embora possivelmente mais complexo e fugidio ao nosso entendimento.”
— Andrew M. Lobaczewski

“La Liberté guidant le peuple” por Eugène Delacroix • Wikimedia Commons

Lançado no Brasil em 2014 pela Vide Editorial, Ponerologia: Psicopatas no Poder é o conjunto de estudos do psicólogo polonês Andrew Lobaczewski (1921–2008) e de seus colegas quando fizeram parte de um grupo de cientistas que se dedicou a examinar as personalidades de líderes políticos dos regimes totalitários. Suspeito de possuir conhecimento sobre a natureza patológica do sistema sob o qual vivia, Lobaczewski foi forçado pelas autoridades soviéticas que dominavam parte da Polônia a deixar o país. Só pôde, por fim, escrever o livro em 1984 nos Estados Unidos.

I. Pessoas não normais

Ainda no período em que realizava suas pesquisas sobre as anomalias e deficiências psicológicas dos líderes políticos de sua era, Andrew Lobaczewski percebeu que alguns parceiros de trabalho começaram a mudar sua visão de mundo: passaram por um processo degenerativo da personalidade — a “transpersonificação”, como foi nomeado — por efeito do qual seus sentimentos, outrora amigáveis, tornaram-se frios. Eles davam a impressão de possuir algum conhecimento secreto, diz Lobaczewski. A partir daquele momento, os colegas que não haviam cedido a essa transformação tinham de ter todo o cuidado do mundo com o que diziam. Aqueles, então, logo entraram para o Partido. Outros viraram fanáticos, e uns se aproveitaram das condições para restabelecer vínculos perdidos com as pessoas normais.

Lobaczewski explica que todas as sociedades contêm certo percentual, um número relativamente baixo, de indivíduos que não podem ser considerados normais. Essa anormalidade é, portanto, qualitativa, não estatística. Ou seja, as pessoas não normais constituem minoria da população, porém são peculiarmente ativas.

O psicólogo está interessado na etiologia, nas causas primeiras do aparecimento do mal. Que faz acontecer isso? Carregam todos tal semente dentro de si? A descrição literária dos fatos, mediante linguagem coloquial, por mais realista, fiel e psicologicamente verossímil que seja, não pode responder a essas perguntas, nem consegue explicar inteiramente suas origens, afirma ele.

Nosso sistema natural de conceitos e imaginações, segundo Lobaczewski, não é equipado com conteúdos suficientes para compreender racionalmente a qualidade dos fatores presentes na concepção e durante os períodos de crueldade desumana.

O surgimento de um novo ramo da ciência, pois, faz-se necessário: a Ponerologia (do grego poneros, que significa maldade, malícia). Ela estuda os componentes causais, o processo de gênese — de origem — do mal e suas leis gerais, independentemente de âmbito social. Constitui objeto mais importante do livro o processo de ponerogênese do fenômeno macrossocial, isto é, o mal em larga. Ele aparece sujeito às mesmas leis que operam sobre as questões humanas no patamar individual ou em pequenos grupos, e o papel das pessoas com vários defeitos psicológicos e anomalias de nível baixo parece ser característica constante do fenômeno. Compreendamos agora pontos indispensáveis para a continuação.

Primeiramente, Lobaczewski diz que, ao desenvolver a personalidade, o indivíduo tem a propensão para abafar do campo de sua consciência quaisquer associações que indiquem causa externa para sua visão de mundo e seu comportamento. As pessoas mais jovens, em especial, querem acreditar que escolhem livremente suas decisões. Contudo, continua, muito desse condicionamento está relacionado a nossas infâncias: as memórias estão distantes, mas carregamos os resultados das primeiras experiências conosco por toda a vida. Quer isso dizer que causa e efeito estão frequentemente bem separadas no tempo. No decorrer da vida, e principalmente durante a infância e juventude, assimilamos materiais psicológicos das demais pessoas por meio de identificação, imitação etc. e as usamos para formar nossa personalidade. Conclui-se que a construção da personalidade pode ser deformada caso os materiais colhidos estiverem contaminados por fatores patológicos. O produto seria um cidadão incapaz de entender corretamente tanto ele mesmo como os outros, não só as relações humanas normais senão também as morais.

A visão de mundo natural — cotidiana, habitual, psicológica, social e moral — é fruto do processo de desenvolvimento do homem dentro da sociedade, sob a influência constante de traços inatos. O psicólogo explana que entre esses traços estão a fundação instintiva, filogeneticamente — isto é, ligada à evolução — determinada da espécie humana, e a educação dada pela família e pelo ambiente. Autêntico e natural é esse curso. Nenhuma pessoa pode se desenvolver sem ser influenciada pelas pessoas e suas personalidades ou pelos valores morais e religiosos contidos na sua civilização.

De acordo com Lobaczewski, a visão de mundo natural possui um erro permanente que favorece a eclosão do mal, a saber, a tendência emocional de carregar em nossas opiniões um julgamento moral. Essa pré-disposição de julgamento moral, que está profundamente enraizada na natureza e nos costumes da comunidade humana, vira-se contra nós quando a extrapolamos nas reações às manifestações de comportamentos impróprios. Em outras palavras: quando deparamo-nos com sujeitos cujo comportamento consideramos mau, tendemos, num instante, a julgá-los em vez de procurar entender as condições psicológicas que os convenceram de que estão se comportando de forma apropriada. Essa conduta nos empurra para longe do mal, impedindo-nos de olhá-lo como doença e impossibilitando, assim, seu estudo e combate.

Em segundo lugar, ele diz que a personalidade humana é instável por natureza, e sua evolução é o estado normal das coisas. Todavia, nossas personalidades passam por períodos destrutivos temporários, como consequência dos eventos da vida, especialmente se experimentamos sofrimento ou lidamos com situações contrárias às nossas experiências e expectativas. O transtorno desintegrativo faz com que nos esforcemos mentalmente a fim de superá-lo. Superar tais estados, corrigindo os erros e enriquecendo a personalidade, é o modo adequado de reintegração, que nos eleva a um entendimento e aceitação da vida, de nós mesmos e dos outros. A sensibilidade desenvolve-se altamente nas relações interpessoais. As condições desagradáveis às quais sobrevivemos são agora dotadas de sentido, pois, “se a vida tem sentido”, como declarava o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, “o sofrimento necessariamente também o tem”. Sofrimento passado é glória, já dizia Riobaldo em Grande sertão: veredas.

O sofrimento e o esforço mental durante tempos de amargura levam à regeneração progressiva, e mais nobre, dos valores perdidos.

Quanto à capacidade intelectual humana, Andrew Lobaczewski examina que, dentro de todas as sociedades, sua distribuição é completamente diferente: as pessoas altamente talentosas constituem pequena percentagem populacional. É uma lei universal da natureza. O psicólogo canadense Jordan Peterson, em 12 Regras Para a Vida, elabora ideia similar no que ele nomeou princípio de distribuição desnivelada. Poucas pessoas têm muito; muitas pessoas têm pouco. Fato que ocorre em todos os contextos de produção criativa. Quanto mais alta a organização psicológica de dada espécie, diz Lobaczewski, maiores são as diferenças psicológicas entre suas unidades. O homem é a que possui a mais alta organização; logo, maiores variações. A aparente injustiça mencionada é, na verdade, o grande dom da humanidade, que viabiliza melhores estruturas e criatividade nos níveis individual e coletivo. Em virtude da variedade psicológica, o potencial das sociedades é muito maior do que seria possível se elas fossem psicologicamente homogêneas. Os indivíduos diferenciados desempenham função tão significativa na vida coletiva que qualquer sociedade que tente impedi-los de cumprir sua responsabilidade o faz por conta e risco próprios.

II. Sociedade

Relembra Lobaczewski, porém, que sempre existirão “pedagogos da sociedade”: pessoas menos talentosas, mas muito mais numerosas, que ficam fascinadas pelas suas ideias “grandiosas”, as quais, embora possuam algum grau de verdade, são limitadas ou contêm defeitos derivados de algum pensamento patológico.

Diversas circunstâncias misturadas dentro duma sociedade, incluindo a visão patológica, podem forçar o cidadão a exercer funções em que não fazem uso real de seus talentos. Conseguintemente, sua produtividade não é boa: às vezes é até pior que a de um trabalhador razoável. Tal indivíduo sente-se traído e coberto de dúvidas que o impedem de atingir a autorrealização. Seus pensamentos esquivam-se dessas dúvidas para um mundo de fantasia onde ele é o que acredita merecer ser. Se falha em propor a si críticas saudáveis em relação a seus limites, seus devaneios podem “entender” que o mundo é injusto e que o que ele precisa é de poder. As ideias radicais encontram lugar propício para proliferação entre essas pessoas em fases descendentes. (Muito relacionei as conclusões do dr. Lobaczewski com o filme Coringa. Você pode acessar o artigo “Mentes doentias” aqui no Medium.)

Numa imagem mais abrangente, Lobaczewski analisa países com população heterogênea: eles manifestam diferenças raciais, étnicas e culturais existentes em quase todas as nações formadas por conquistas. Nelas, as memórias de sofrimentos passados e de desprezo pelos conquistadores continuam a dividir a população; é possível, entretanto, superá-las se entendimento e boa vontade prevalecerem em muitas gerações. Todas as dificuldades só podem se tornar destrutivas caso um grupo social exigir cargos acima de suas capacidades, a fim de manter sua hegemonia. Thomas Sowell, economista e crítico social norte-americano, relata brilhantemente as sequelas dessas reivindicações em Ação Afirmativa ao Redor do Mundo.

Lobaczewski argumenta que os sonhos de uma vida feliz e pacífica deram origem ao uso da força sobre o outro, força que insensibiliza a mente de quem a utiliza. Por isso é que sonhos de felicidade não passaram do papel ao longo da história. A visão hedonista contém as sementes da miséria e alimenta um ciclo que pode ser assim resumido: épocas boas dão origem a épocas ruins, que motivam esforço mental para retomar o bom senso, a moderação e as virtudes que servirão para resgatar a época boa.

Que acontece nas épocas boas para que delas surjam as ruins? Durante as eras “felizes” ou “boas”, as pessoas perdem progressivamente de vista a obrigação da reflexão sobre as leis complicadas da vida. Qualquer excesso nesse sentido parece tempo perdido que poderia ser usado para curtir as alegrias do momento. Uma pessoa alegre é divertida; a que prevê os nocivos resultados futuros são estraga-prazeres. Então, a percepção da verdade sobre o meio, especialmente a compreensão mais aguçada da personalidade humana, deixa de ser investigada. As implicações são o empobrecimento do conhecimento, dos valores mentais essenciais à manutenção da lei e da ordem e o consequente culto ao poder.

Nesses tempos a busca pela verdade é inconveniente porque revela fatos desagradáveis; ocupar-se de assuntos fáceis e irrelevantes é melhor. Torna-se hábito a substituição inconsciente de informações “não recomendáveis” por outras mais cômodas, beirando os limites da psicopatologia. O desgaste passa a esmagar a capacidade de consciência individual e coletiva: forma-se o ciclo de histeria. Histeria, aqui, refere-se ao medo da verdade ou medo de pensar sobre coisas impertinentes, para não arruinar o contentamento presente. O subconsciente toma a dianteira na vida. Esse primeiro estado patológico é necessariamente coletivo.

Dependendo das desigualdades sociais, os jovens de classes privilegiadas aprendem a reprimir pensamentos que sugerem que eles e seu pais estão beneficiando-se da injustiça cometida aos outros. Menosprezam, então, as tradições de pessoas que usam seu trabalho para se dar bem. Eles passam a histeria para a próxima geração, que a desenvolve com maior intensidade. Os modelos histéricos aumentam e logo chegam às classes baixas: a diminuição das faculdades críticas atinge o ápice. Qualquer um que “soe o alarme” do sensor hipersensível é hostilizado. A sociedade divide-se em grupos ainda mais polarizados. Imunidade a esse processo adquirem apenas os grupos que “ganham o pão de cada dia pelo esforço diário”, como, por exemplo, os camponeses, que veem os costumes histéricos dos mais prósperos por meio de sua realidade psicológica simples e de seu senso de humor.

Interessante é que a hiperatividade social torna-se raison d’être — a razão de ser — de muita gente cujas vidas são irregulares. Elas agarram-se a ídolos e ideologias como métodos de sobrecompensação. A mania própria de ficar ofendido por trivialidades provoca retaliações constantes, aproveitando-se da hiperirritabilidade, da falta de crítica saudável, da apatia intelectual e do autoengano contidos no ambiente. O ciclo de “tempos felizes” favorece, pois, o estreitamento da visão de mundo, que produz, finalmente, tempos de desânimo e confusão.

III. Ponerologia

De 5000 pacientes psicóticos, neuróticos e saudáveis, Lobaczewski e outros selecionaram 385 adultos que se comportaram de forma seriamente danosa em relação a outras pessoas. Delas somente 14 a 16% não apresentaram nenhum fator psicopatológico que teria influenciado sua atitude. Concluíram, então, que o fator patológico ou determina a ocorrência do feito ou é, pelo menos, componente indispensável para sua origem. Os fatores psicopatológicos sozinhos não decidem sobre a propagação do mal. As condições socioeconômicas e deficiências morais e intelectuais têm importância paralela.

Os indivíduos e as nações que estão capacitados para suportar a injustiça em nome de valores morais podem encontrar mais facilmente uma saída para tais dificuldades, sem o uso de métodos violentos. Enfatizar o papel dos fatores patológicos na gênese do mal não minimiza a parcela de contribuição das falhas sociais, morais e das deficiências intelectuais.

O mal é uma espécie de sequência contínua de condicionamentos, estímulos mútuos: um tipo de mal alimenta o outro. As características dos fatores patológicos não são intensas ou óbvias; pelo contrário, são subestimadas pela opinião pública devido a sua intensidade clinicamente detectável.

No processo da origem do mal, duas são as formas de ação dos fatores patológicos. A primeira é a partir do interior, do querer intencional intimo, do individuo que cometeu o ato. Essa é facilmente reconhecida pela sociedade. A segunda é a partir de influências emitidas por portadores de tais fatores deficientes. Bem menos perceptível é essa. Sua ação sobre os indivíduos e grupos normais, de preferência aqueles em situação desfavorável, tem peso crucial: os fatores patológicos lesionam a mente e o temperamento sãs, principalmente se as vítimas se identificam com a autoridade do anormal. Para que ela seja ativa, a característica patológica deve ser interpretada de forma moralista. Deduz-se disso que a visão natural supramencionada, responsável pela disposição moralista, é uma das causas ponerogênicas, isto é, que dão origem ao mal.

As anormalidades que compõe os fatores patológicos podem ser ou adquiridas, por contaminação, ou herdadas.

Anormalidades adquiridas

O primeiro tipo de anormalidade adquirida citada por Lobaczewski são os transtornos de caráter, as caracteropatias. As lesões no período perinatal ou na primeira infância têm resultados mais ativos do que danos ocorridos posteriormente. A deformação negativa tende a crescer conforme o tempo.

A experiência de pessoas com essas anomalias floresce no dia a dia, no cotidiano. Seu modo de pensar distorcido, sua violência emocional e seu egotismo — apreço exagerado pela própria personalidade — encontram entradas fáceis na mente das pessoas normais, diminuindo a habilidade destas de usar o senso comum.

Guilherme II (1859–1918), último imperador alemão e rei da Prússia, é exemplo de personalidade caracteropática em escala macrossocial. Ele sofreu trauma cerebral no nascimento. Durante seu reinado, suas deficiências foram escondidas. Suas características infantis o faziam deixar de lado assuntos importantes, no intuito de se desviar de problemas. Posses militares compensaram seus sentimentos de inferioridade e suas desvantagens. Politicamente, possuía rancor pessoal e descontrole emocional. Já que as pessoas comuns estavam inclinadas a se identificar com o imperador e, por conseguinte, com o sistema de governo, o material caracteropático transmitido pelo Kaiser foi ingerido por boa parte do povo alemão. Após as tensões internacionais, a Primeira Guerra Mundial (1914–1918) e o Tratado de Versalhes, ficaram mais nítidos os motivos pelos quais a nação alemã escolheu Adolf Hitler como Füeher.

Anormalidade singular é a caracteropatia paranoica, causada por agressão ao diencéfalo (estrutura da porção mais inferior do cérebro). Nessas pessoas, pensamentos efêmeros dão origem a uma visão paranoica da realidade, donde ideias ingênuas e revolucionárias podem surgir. Pessoas que não possuem lesões do tecido cerebral geralmente contraem material patológico da educação recebida de pessoas com caracteropatia. Lênin é o exemplo mais conhecido dessa personalidade.

Caracteropatia frontal manifesta-se quando as áreas frontais do córtex cerebral, responsáveis pela aceleração e coordenação do pensamento, são prejudicadas sem afetar sentimentos baseados no instinto. Estes são superdesenvolvidas para compensar as demais, ou seja, as reações instintivas e afetivas de seus portadores sobressaem (diferente das pessoas normais, que levam mais tempo para analisar as hipóteses):

Tais indivíduos interpretam seu talento para intuir situações e tomar decisões simplificadas rapidamente como sinal de superioridade em relação às pessoas normais.

Esses caracteres traumatizam e encantam ativamente os outros. Stálin — bruto, carismático, tomador de decisões irrevogáveis e crente na genialidade de sua mente, que, na realidade, não passava de mediana — deveria ser incluído na lista dessa caracteropatia.

Anormalidades herdadas

Duas são as anomalias que podem ser herdadas: a esquizoidia e a psicopatia essencial.

Esquizoidia: seus portadores são hipersensíveis e desconfiados, enquanto, simultaneamente, pouco ligam para os sentimentos dos outros. Tendem a assumir posições extremas e são aflitos por rebater ofensas menores. Sua análise psicológica fraca do que acontece ao redor leva a interpretações equivocadas e pejorativas sobre as intenções das outras pessoas. São tipicamente pessimistas quanto à natureza do ser. Sua tendência a ver o mundo de forma maniqueísta transforma suas intenções, frequentemente boas, em resultados ruins. O papel ponerogênico dessa anomalia pode ter implicações macrossociais se as doutrinas inventadas pelos portadores forem colocadas no papel e disseminadas em larga escala, envenenado a mente das sociedades por longos períodos.

Eles acreditam ter encontrado uma solução simples para consertar o estado de coisas vigente. Karl Marx é o melhor exemplo de um portador de esquizoidia. (Peter Jacob Frostig, psiquiatra polonês, incluiu também Engels e outros em uma categoria que chamou “Fanáticos esquizoidais barbudos”.)

Tipos como Marx procuram causas de fenômenos óbvios. Mas suas teses não constituem a verdade inteira, porquanto desconhecem ou ignoram outros pontos que compõem a formação do fenômeno estudado.

Mesmo que os escritos de autores esquizoidais contenham deficiências, ou sempre uma declaração esquizoidal explícita, o leitor mediano os aceita, não como ponto de vista alterado por essa anomalia, mas como uma ideia que deveria considerar seriamente — esse é o primeiro erro, segundo Lobaczewski. O teor simplista de suas ideias tende a atrair intensamente indivíduos que são insuficientemente críticos, frustrados por causa de sua situação atual, culturalmente marginalizados ou caracterizados por alguma deficiência psicológica própria. Tais escritos são particularmente atraentes para uma sociedade histerizada.

Psicopatia essencial: o papel dessa anomalia no processo de geração do mal é excepcionalmente grande em qualquer escala social. Ela representa um déficit no estímulo instintivo, isto é, uma substância instintiva deficiente. Os psiquiatras, conta Lobaczewski, costumavam chamar tais indivíduos de “Daltônicos de sentimentos humanos e valores sociomorais”. Nosso mundo natural de conceito atinge os psicopatas como convenção incompreensível e inexplicável. Eles acreditam que os costumes e princípios decentes são criações externas impostas por alguém.

A estrutura social dominada pelas pessoas normais e seus conceitos são para os psicopatas um “sistema de força e opressão”. Eles chegam a essa conclusão como regra. Se, ao mesmo tempo, um pouco de injustiça realmente existir em dada sociedade, os sentimentos patológicos de falsidade e as declarações sugestivas ecoam entre os que de fato estão sendo tratados injustamente. Deste modo, as doutrinas revolucionárias podem ser propagadas entre ambos os grupos, embora tenham razões diferentes.

Três qualidades são as principais nos psicopatas: ausência de senso de culpa pelo sofrimento infligido a outrem, incapacidade de amar verdadeiramente e a inclinação para ser tagarela, desviando-se da realidade.

Acesse a Parte II aqui.

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